quarta-feira, 26 de março de 2008

RESENHAS E COMENTÁRIOS DE ARTIGOS E BIBLIOGRAFIAS

GEOGRAFIA NA ESCOLA

A presença constante da geografia entre as disciplinas que compõe as diferentes propostas curriculares das escolas oferece indícios de que as relações entre essa disciplina e o sistema escolar são profundas do que se possa imaginar.
É na França, em 1782, em pleno processo de Revolução que começa a organização da instrução publica, ou seja, ensino público, pois o antropocentrismo antes, não mais Deus, dava inicio a caminhada rumo ao estabelecimentos dos direitos dos homens, neste sentido a escola publica passa a ser defendida como o meio capaz de difundir os conhecimentos necessários a formação de todos os cidadãos. A educação, além de publicizada, é proclamada universal, gratuita e obrigatória.
A educação tinha que ser gratuita para que a proposta se cumprisse, pois através da gratuidade absoluta, a instrução pode ser mais extensa e igual. Já a superação de estruturas feudais exige a laicidade na educação em razão da neutralidade religiosa indispensável ao triunfo da razão. A publicação da educação é, pois, uma das formas encontradas pela burguesia enquanto classe em ascensão para conquistar a hegemonia, combatendo os privilégios do clero e dos senhores feudais.
A transformação de servos em cidadãos, fundamental para a ruptura do modo de produção feudal e a implantação do capitalismo, só se pode através da educação. A escola surge como instrumento capaz de transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade, retirando os homens do estado de ignorância em que se encontram e, ao mesmo tempo, inserindo-os na concepção burguesa que emerge na sociedade. É neste contexto que a expansão do sistema de ensino passa a servir para assegurar a hegemonia burguesa reproduzindo as relações de classes existentes e garantindo, ao mesmo tempo, a expansão do capitalismo.
A escola e a escolarização se firmam ao longo do século XIX, no momento em que se da à consolidação do Estado nacional e do capitalismo, sob a hegemonia burguesa. A rede de escolas que então se implantam no interior dos diferentes territórios europeus assume um caráter nacional, pois para a constituição do Estado-Nação torna-se indispensável à utilização de instituições que possibilitam a imposição da nacionalidade.
A geografia, a história e a língua nacional, introduzidas nos currículos nacionais, tornam-se instrumentos poderosos nas mãos de uma classe preocupada com a sua hegemonia e com o movimento do capital que deseja consolidar o Estado nacional a partir da delimitação geográfica de suas fronteiras, demarcadas pela tradição e língua comum.
A geografia é incluída nos currículos escolares por razões geopolíticas enquanto não só marca a naturalidade do homem no espaço, mas também sustenta que o homem só é homem porque incluído politizado, nacional. A geografia analisa o físico, mas o físico em si mesmo não tem sentido. Ele só o terá se for considerado como domínio pelo homem e ligado idéia de um espaço em que exerce uma determinada cidadania.
As interligações entre a escola e a geografia situam-se no contexto do século passado, em que diferentes interesses políticos, econômicos e sociais estão em jogo. Ao mesmo tempo, estas vinculações indicam caminhos que todo o professor de geografia preocupado com o sistema de ensino terá que percorrer se desejar encontrar explicações para a discussão geográfica atual.
O saber transmitido pela geografia tradicional, ciência que se diz preocupada como o concreto, cai numa pseudo-concreticidade, elimina o raciocínio e a compreensão e leva a mera listagem de conteúdos dispostos numa ordem enciclopédia linear que, mais uma vez, evidencia uma precedência do natural sobre o social, para que o social seja visto como natural. Conteúdos bastante regidos que priorizam os elementos da natureza.
Esta forma de trabalhar geografia, além de enfadonha, não corresponde à organização humana do espaço, porque não considera que todo o arranjo espacial contém em si relações humanas. A geografia trata da produção do espaço não como algo resultante da mediação do trabalho humano dentro das relações determinadas, mas como algo produzido apenas por forças naturais, sendo que a geografia não considera o aluno neutro, sem vida, sem cultura, sem história e sem espaço.
Porém para ensinar geografia que não isola a sociedade e a natureza, que não fragmenta o saber sobre o espaço reduzido sua dimensão de totalidade, o professor precisa saber conhece a origem destes conteúdos.

FONTES, R. M. do A. Da geografia que se ensina a gênese da geografia moderna. Florianópolis: UFSC, 1989.


Nenhum comentário: